D.S.T. - Debates Socialmente Transmissíveis

Faltando aproximadamente um ano para o vestibular nos sentimos cada vez mais uma massa de manobra. Números de uma sociedade orgânica de individualidade questionável, empanturrados de conteúdo programático, macetes e neuras. Nesse contexto, surge o despretensioso “DST”, um grupo de “prevenção e tratamento” às doenças venéreas de uma sociedade doente, alienada, saturada de vazios, informações descartáveis, crítica condicionada e discussões pouco aprofundadas.

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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Beleza (20/08/10)


A Reunião se deu sob circunstâncias excepcionais visto que, pela primeira, vez foi aberta para participantes que não fazem parte do núcleo original de discussões. Foi anunciado, previamente, em salas de primeiros e segundos colegiais do colégio Nacional a data, horário e tema da discussão a ser feita. Nove pessoas compareceram e demonstraram alto interesse nos temas propostos além de promoverem um enriquecimento na argumentação e jogo de idéias, a experiência foi bem sucedida e pretende se repetir.
O tema proposto circundava padrões de beleza e comportamento     muitas vezes impostos pela mídia e cultivados por uma sociedade de autenticidade questionável. Muitas vezes estamos submetidos às influências da publicidade e da propaganda de forma muito sutil e quando percebemos nada mais fazemos além de reproduzir o que nos é, de certa forma, imposto e definido como tendência.
Partimos inicialmente da visão mais simples e comum a todos no que diz respeito à clara manipulação dos meios de comunicação que, numa mera lógica de mercado, parecem querer vender e colocar em evidência a todo custo seu produto, visando apenas o lucro. E, como notória conseqüência, explora de diferentes formas (muitas vezes negativas) e principalmente a figura feminina, ironicamente grande consumidora do que é exposto na gigante vitrine capitalista.
Mas eis que surge um contraponto: A avalanche de informações que a priori pretende atingir um determinado público acaba influenciando segmentos sociais das mais diferentes idades, cores e estilos que de certa forma, tentam se encaixar no padrão proposto, abdicando-se de sua verdadeira identidade ou daquilo que o diferencia como indivíduo. Seja pelo peso corporal, corte de cabelo, tatuagens, cicatrizes, roupas e afins: Haverá sempre uma corrente de tendências capaz de podar quaisquer características socialmente “reprovadas”.
Dedicamos uma atenção especial às crianças do sexo feminino que, em processo de formação e alfabetização, aprendem dês de cedo a se vestir e portar como mulheres mais velhas e maduras, criando consequentemente, um processo de erotização precoce e não aceitação de sua própria figura, de seu próprio corpo. Explica-se tal fenômeno, não pelo fato de termos uma mídia de influência generalizada, mas justamente pela sua atomização em termos de público alvo: Ela possui para cada idade uma intenção mercadológica e exerce, portanto, uma pressão infindável em cada faixa etária de modo a ampliar seu poder de infiltração.
Outro argumento colocado em discussão foi a tentativa de se colocar no lugar do comunicador social e enxergar que talvez estejamos construindo nossos próprios padrões de beleza e comportamento no imaginário social, mas partindo de uma má interpretação do que é produzido em termos de propaganda, publicidade e tendências efêmeras, que nem sempre têm a intenção e manipular e se infiltrar na mente do consumidor. Através disso seria possível inferir que, a mídia traz elementos que nada mais são do que o próprio reflexo do comportamento que a sociedade possui, sendo nós, portanto, os grandes responsáveis da constante distorção de imagens e valores colocados diante de nós em anúncios com homens e mulheres cada vez mais explorados sexualmente, duramente padronizados, como se nos recusássemos a admitir novos grupos com estilos e opiniões diferentes.
Mas é preciso reconhecer que tal fato tem se alterado, citamos como exemplo propagandas da empresa de cosméticos “dove” que possuíam como lema “a real beleza” onde tinha-se a clara valorização das mais variadas formas da figura feminina que, em pleno século XXI, já não conseguem se resumir em tão poucos segmentos, como sugere o mainstream. Seria, de fato, hipocrisia dizer que toda e qualquer mídia é preconceituosa e impositiva, ela tem se moldado radicalmente conforme a própria dinâmica de mercado contemporânea. Mas é algo incontestável que, a esmagadora maioria do que é exibido, especialmente no Brasil, ainda reflete uma mentalidade retrógrada e altamente fixada em padrões extremos de beleza, prova disso seria a quantidade crescente de cirurgias plásticas realizadas anualmente em consultórios nacionais.
Outro tema que, apesar de ter sido por várias vezes considerado uma fuga da discussão principal, foi complementar ao debate foi a questão da sexualidade. A constante omissão dos pais no que diz respeito às conversas educativas e esclarecedoras e conseqüente erotização precoce de crianças e adolescentes, como foi dito anteriormente. Afinal, a própria mídia acaba substituindo o papel fundamental da instituição familiar nesse aspecto e deformando, talvez sutilmente, noções e valores sexuais dos filhos. Além disso, é válido ressaltar o quanto a mulher, surpreendentemente se deixa explorar sexualmente, tendo sua imagem construída muitas vezes de forma banal, vulgar e pura e simplesmente erótica no imaginário coletivo, o que pode refletir, novamente, a própria mentalidade retrógrada da nação.
Outra questão levantada foi a forma como revistas e programas de grande circulação entre crianças e jovens como a vertente da editora Abril, possuidora de conteúdo extremamente abrangente, se apropria de manifestações culturais pré-existentes, moldando-as conforme a visão da própria editora, e não dos jovens e criadores dos movimentos em si. O que nos leva a concluir que na verdade, o processo em questão não se dá por uma múltipla escolha dos argumentos supracitados e sim numa expressão matemática de somatórias, cujo resultado é um ciclo educativo-cultural vicioso que apenas reflete a mentalidade brasileira muito aquém de seu tempo, ainda em processo de construção.
Ainda a respeito da editora Abril discutimos sobre o concurso “Colírios Capricho” criado pela mesma, no qual são eleitos pelo voto virtual dos adolescentes garotos bonitos para apresentarem um vlog e um programa na emissora MTV. Enxergamos nesse concurso uma sexualização precoce da imagem masculina, o que é algo relativamente inédito. Entretanto é lastimável a criação de qualquer símbolo sexual que se restrinja a ser somente um símbolo e a veneração em massa do mesmo, como tem ocorrido com os “colírios”.
Observamos também que os garotos eleitos no concurso são possuidores de uma beleza extremamente feminilizada. É extremamente comum que eles usem produtos destinados originalmente às mulheres, o que significa uma renovação de valores e quebra de tabus. Discutimos ainda se essa feminilização da beleza masculina pode ser um reflexo da evolução da independência da mulher que agora se vê também independente daquela figura de homem forte, másculo e protetor.
Na tentativa de tentarmos esclarecer conceitualmente a “beleza” com termos platônicos, eruditos ou vulgares eis que um dos integrantes da discussão consegue resumir astutamente um aspecto interessante do tema em apenas uma frase: “O problema não está em ser bonito, e sim, em ser bonito apenas” – Willian Gimenes .
Após brilhante citação, é inevitável uma conclusão: A fixação por padrões de beleza tem sido levada à sério demais na sociedade atual, em atitudes cada vez mais vaidosas e narcisistas, quase nos esquecemos de uma real construção de identidade aliada ao diálogo familiar e cultural, à parte de supraestruturas como os próprios meios de comunicação.
Participantes: Gabriela, Taciana, Mateus Carrijo, Nathália (2ºCapa), Victor, Anna Vitória, Marcell, Willian, Mateus Motta e Matheus Fernandes (2ºFi), Thais, Matheus Huang, Carol (1ºCapa).
Campanha Dove pela Real Beleza (comercial)

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