D.S.T. - Debates Socialmente Transmissíveis

Faltando aproximadamente um ano para o vestibular nos sentimos cada vez mais uma massa de manobra. Números de uma sociedade orgânica de individualidade questionável, empanturrados de conteúdo programático, macetes e neuras. Nesse contexto, surge o despretensioso “DST”, um grupo de “prevenção e tratamento” às doenças venéreas de uma sociedade doente, alienada, saturada de vazios, informações descartáveis, crítica condicionada e discussões pouco aprofundadas.

Contagie-se também.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Governo Lula (25/06/2010)


Foi sugerido o tema “governo Lula”. Entendemos que tal tema, além de nos conscientizar sobre a conjuntura brasileira, nos faz perceber o perfil político dos atuais principais candidatos à presidência, visto que Lula e Fernando Henrique Cardoso representaram praticamente os mesmos perfis que os candidatos apresentam hoje. De um lado, FHC controlou a inflação com o plano real, liberalismo, desestatizações e uma política de retenção de gastos, sem grandes investimentos sociais nem crescimento econômico efetivo, mas deu fim a um ciclo de crise vicioso que se estendia desde a década de 70. Do outro, Lula investiu numa política de assistencialismo social, incentivo ao consumo e crescimento econômico sem, contudo, romper totalmente com o plano diretor (metas políticas) do antigo presidente.
Afinal, Lula foi bem sucedido em seus objetivos? O consumo e investimentos sociais agravaram dívidas? A mídia realmente é contra Lula? Sua aprovação popular influencia diretamente na campanha de Dilma? A corrupção no governo Lula foi maior ou simplesmente mais escandalosa? A política petista ainda é fiel às suas influências iniciais?
Num balanço geral, todos concordaram que a “Era Lula” foi, em diversos pontos, positiva ao país. O desenvolvimento na segurança, evidência no cenário mundial, aquisição de importância política, políticas provisoriamente eficientes, etc.
Porém, este também foi um governo manchado por evidentes níveis alarmantes e decepcionantes de corrupção. Aliás, esta não é uma característica só deste governo. Viemos de um histórico de roubos e impunidade (total ou parcial) na política desde 1989, com Collor. A eleição de Lula ainda em 2002 significou uma “esperança” às massas que, pela primeira vez, sentiram-se efetivamente representadas na figura de um metalúrgico, semi-analfabeto, nordestino, sindicalista e, até então, pobre. Entretanto, ao se tornarem públicos os esquemas de corrupção do PT e seus ministros, escolhidos “a dedo” pelo próprio presidente, grande parte dessa esperança caiu por terra. Mais uma vez, os brasileiros são induzidos a pensar que “políticos são farinha do mesmo saco”.
É fato que o presidente não tem tanta função fiscalizatória de seus ministérios, de seu secretariado, nem do poder legislativo e que, denunciar publicamente qualquer esquema pode dificultar alianças políticas e representar uma ameaça ao seu próprio cargo. Porém, Lula se manteve completamente aquém dos escândalos, apesar de sua figura estar diretamente relacionada à grande parte dos envolvidos em esquemas corruptos, como o mensalão, o escândalo das vendas das ações da Telemar para Lulinha, filho do presidente ou a “farra” dos cartões corporativos que envolviam também sua filha. Tais comportamentos por parte do presidente reforçam a impunidade, a tendência de distanciamento entre o povo e a política e tornam cada vez mais cética a população e a esperança de ter-se um governo mais limpo e uma justiça que faça juz ao nome.
Concordamos também que as notícias políticas no Brasil são dadas, majoritariamente, de duas maneiras: ou veiculando opinião (de forma sutil ou declarada) ou de maneira confusa, abstrata, com termos complexos e técnicos que impedem um entendimento efetivo do assunto por parte da população. O Jornal Nacional, mídia de maior abrangência no país, por exemplo, encaixa-se na segunda opção (embora também penda à segunda). A maior parte das notícias é transmitida de forma confusa, com exceção daquelas de interesse da própria emissora. Todos os integrantes do grupo relataram experiências claras de afastamento e desinteresse por determinado tema político devido ao linguajar complexo e técnico do jornal. Já as mídias que transmitem notícias com veiculação de opinião não perdem necessariamente em qualidade ao demonstrar parcialidade, desde que declarem oficialmente ao leitor, telespectador, assinante ou qualquer que seja seu público, que o faz. A revista “Caros Amigos”, por exemplo, é, declarada e oficialmente, de esquerda. Tal fato faz com que seu público interessado seja mais específico e, conseqüentemente, menor. Entretanto, ao declarar tal parcialidade a revista está livre para interpretar notícias e o leitor, ciente que está lendo um texto de opinião que atende aos princípios de determinado grupo. Já a revista Veja, por exemplo, é totalmente de direita com ligações óbvias com os tucanos e seu histórico de governo, mostrando-se avessa a qualquer política petista, manipulando notícias, imagens e até publicando fatos questionáveis. Por ser uma mídia de grande circulação e público abrangente, nem todos os seus leitores têm plena consciência e crítica a respeito do que é veiculado. Portanto, não declarar-se oficialmente parcial é uma atitude extremamente antiética que tem como objetivo atingir um público cada vez maior, menos específico e mais manipulado. Essa parcialidade ou complexidade excessiva da notícia dificultam um acompanhamento imparcial e efetivo da política brasileira.
Ao compararmos FHC e Lula e, inevitavelmente, Serra e Dilma, concordamos em alguns pontos principais:
1.     Ambos os governos se complementaram em diversos aspectos. É fato que as ações e o desenvolvimento promovidos por Lula seriam muito limitados se não tivessem sido antes condicionados pela administração de Fernando Henrique. Destaca-se positivamente o bom-senso de Lula em dar continuidade às metas indispensáveis e eficientes do plano administrativo de FHC, apesar da inimizade política entre os partidos que representam;
2.     Apesar de muitas pesquisas mostrarem uma aproximada equivalência entre os níveis de corrupção dos dois governos, os escândalos da era Lula foram popularmente mais decepcionantes. Ressalta-se que obter números precisos a respeito do montante já desviado ou da quantidade de corruptos é dificílimo, pois a maioria dos casos é abafada ou não foi encerrada judicialmente;
3.     O endividamento interno saltou de 687 bi para 1,6 tri de reais durante o governo Lula. Tal fato deve-se a numerosos investimentos em assistencialismo social, políticas afirmativas e medidas provisórias que, caso não surtam efeitos (sociais e econômicos) positivos, poderão levar a economia brasileira à falência;
4.     Embora Lula se mostrasse avesso a várias políticas de FHC, hoje, contrariando alguns de seus princípios (fato que não é de todo negativo, visto que durante um mandato o país passa por diferentes momentos e o presidente - enquanto representante nacional - deve mostrar-se flexível e adaptar-se às circunstâncias), realiza políticas semelhantes, como a descapitalização da Petrobrás e o empréstimo financeiro ao FMI, instituição altamente criticada por Lula em seu período sindicalista;
5.     É de preocupação comum do grupo se Serra, ao ser eleito, daria continuidade às eficientes políticas desenvolvimentistas de Lula. Isto porque, é de preocupação dos tucanos o crescimento da dívida interna, por isso, seu projeto de governo tende a frear tais investimentos para impedir o crescimento da inflação, por exemplo. O medo se justifica pelo fato de que o frear desses investimentos, somado ao nível de endividamento popular pode gerar inadimplência;
6.     Acreditamos que a figura do presidente é importantíssima, sendo essencial seu carisma popular (e/ou populista) para que haja uma identificação entre as massas e o governante. Neste aspecto, concordamos que nem Serra nem Dilma possuem esse poder figurativo. Entretanto, nos recordamos que, ao ser eleito pela primeira vez, Lula era taxado de baderneiro, burro e bêbado havendo constantes ridicularizações de sua figura em programas de humor, por exemplo. Já hoje sua figura é mundialmente popular e carismática. Por isso, julgar o carisma dos candidatos a essa altura como péssimo seria uma precipitação de nossa parte;
7.     O fato de alguns políticos terem sido caçados e até presos durante o mandato de Lula é importante até certo ponto. A impunidade ainda é absurda.

Discutimos também até que ponto a pluralidade de partidos, candidatos, deputados, senadores, vereadores, secretários, ministros etc. é positiva. Concordamos que o código civil, os três poderes e todo o sistema burocrático brasileiro são, teoricamente, perfeitos. Mas, na prática, são quase sempre ineficientes. O número de profissionais das áreas citadas é gigantesco e exagerado, gerando, proporcionalmente, um déficit administrativo aos cofres públicos. Além disso, os salários desiguais entre os poderes são razão óbvia de corrupção de seus integrantes. Porém, essa tão sonhada reforma administrativa e fiscal é muito difícil de ser realizada embora esteja presente nas promessas de muitos presidentes. Isto porque a aprovação de tal medida teria que ser aprovada pelos próprios beneficiados dessa “orgia administrativa”. Dessa forma, impunidade e corrupção acabam sendo problemas estruturais praticamente impossíveis de serem corrigidos num sistema presidencialista onde o governante deve preocupar-se, num período curto de quatro em quatro anos, com as alianças políticas e o eleitorado fiel. Nesse ponto, chegamos a cogitar se uma ditadura pode ou não ser eficiente nesse sentido, visto que a eleição de quatro em quatro anos deixa o presidente de mãos atadas muitas vezes, tendo que funcionar como mediador de situações, o que impede uma reforma efetiva.
As políticas de afirmação, provisórias e/ou assistencialistas do atual presidente são uma injeção de investimentos sociais no país que têm mostrado retornos positivos e dá sinais de desenvolvimento ainda maior em longo prazo. As cotas raciais e sociais, por exemplo, embora polêmicas, constituem uma forma eficiente de aumento do alcance do ensino superior nas camadas mais baixas. Destaca-se o Pro uni, como um dos projetos mais sensatos da educação da história do país. O “bolsa família” é outro exemplo de política assistencialista eficiente, pois aumentou significativamente o poder de compra da população mais pobre, sendo de essencial importância para que o Brasil não fosse muito prejudicado com a crise mundial de 2008, por exemplo.
Finalmente, concordamos que sabíamos pouco sobre muitos aspectos do governo Lula. Reconhecemos também que o distanciamento político da população (independentemente de nível intelectual) é uma realidade triste que só contribui para a impunidade e a corrupção. Seria uma negligência nossa culpar somente o sistema e nos abster da culpa. É honrável que em outros países as pessoas saiam às ruas de rostos pintados e cartazes a postos, protestando contra escândalos menores do que os que acontecem aqui.
Enfim, o debate se deu de forma satisfatória e percebem-se nítidas evoluções do grupo na questão do foco das discussões, embora estas aconteçam tranquilamente, sem uma pauta definida e limitante. A concentração nos assuntos propostos foi eficiente. Uma integrante não compareceu por motivos de saúde.
Participantes: Mateus Carrijo, Gabriela Carolina e Taciana (segundo capa).


11 comentários:

  1. Ridículo isso aqui! Que grupo "modinha" é esse de vocês que seguem a "onda" dos professores do Nacional, que ficam dizendo que Dilma é uma deusa, e Serra o capeta, isso é no mínimo ridículo. A pior coisa que existe é aquele eleitor que é influenciado por outro,sem ver os dois lados políticos. GRUPO MODINHA!!! QUEREM PAGAR DE INTELECTUAIS E DEBATER AQUILO QUE JÁ FOI DISCUTIDO EM SALA POR PROFESSORES NO MÍNIMO IGNORANTES.

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  2. Pra comentar isto, provavelmente você não leu o relatório. O relatório é justamente uma análise dos dois lados, não sobrepondo nenhum ao outro. Há sim petistas no grupo, que já estão no partido há anos sem a influência dos professores. Expomos e debatemos opiniões e fatos, não caricaturas dos candidatos. Se você é a favor do Serra, participe do nosso debate, essa sexta feira sobre os dois candidatos. Estamos abertos a qualquer tipo de opinião.
    Nunca dissemos que não somos influenciados, qualquer um é, a diferença é por quem. O grupo é justamente para desenvolvermos opiniões próprias a partir de posicionamentos opostos.
    Modinha e ignorância é sair xingando sem fundamento anonimamente, o que nós fazemos são debates democráticos e abertos.
    Estamos colocando nossa cara à tapa, pq não coloca a sua também?

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  3. Brilhante resposta da mediadora.O grupo é brilhante, nasceu permeado à grande quantidade de informações processadas num processo de decoreba para o vestibular.Inovador alguém se preocupar mais do que com o que vai cair na prova ou o que circula sua vida porca egoísta.Mas, o pior é que o ignorante que critica acima é tão fútil que parece não conhecer a realidade dos assuntos discutidos.Coitado tão tapado. Eu já participei dos debates e achei de grande relevância. Não considero de manera alguma modinha. O que eu considero modinha é sentar a bunda em frente ao computador e ler coisas que são de seu desinteresse a mero orgulho de poder criticar. É verdade, fofoca é uma modinha das antigas, mal-dizeres, incapacidade de se envolver com algo que fuja do que é longe do seu alcance. Mas fazer o que, já dizia a vovó mocinha fofoqueira que critica o outro pra abafar seus defeitos nunca deixará de existir.

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  4. Nú, concordo com o anonimo, professores fazendo a cabeça de voces, ridiculo mesmo, ainda mais voces que nem são "vividos", é facil mudar a cabeça de uma pessoa de 15/16 anos.

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  5. O grupo é constituído por pessoas independentes que pensam conforme quiserem. Não há sequer uma opinião unânime para que vocês afirmem que os professores "fazem as nossas cabeças". O grupo é heterogênio.
    Se os professores conseguem influenciar alguém do DST é porque possuem argumentos sólidos para tanto.
    A consciência crítica não vem com a idade. Se faz no exercício da pesquisa, da retórica, no estudo histórico e político do país.
    Já dissemos e voltamos a repetir: os que discordam das opiniões aqui manifestadas estão convidadíssimos para os debates.
    Ridículo é julgar maturidade por idade, julgar um grupo sem ir a um único encontro ou sequer ler um relatório, porque se lessem veriam que há críticas veementes ao governo Lula e ao PT nesse relatório e em outros, como no postado hoje do dia 01/10, e que os assuntos abordados vão muito além dos propostos em sala.
    É com esses argumentos e conhecimentos rasos e supercifiais que vocês pretendem criticar o DST? Isso sim é a mais ridícula das imaturidades.

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  6. Já disse e reafirmo minha admiração pelos debates que o grupo vem desenvolvendo. Mas continuo acreditando que é necessário moderar os comentários, para que este blog também seja um espaço de discussão, não de acusações ou xingamentos sem sentido.

    Quem discorda deve tecer um discurso de oposição fundamentado em argumentos válidos, em dados e em informações concretas. Algo diferente disso é "achismo".

    Não! Vocês não são ridículos. São pessoas, defendem um ponto de vista, se expõem e devem ser respeitados.

    ABRAÇOS.

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  7. tb concordo com o anonimo, um monte de gente nesse dst só querem passar a impressao de intelectuais pra escola e para os professores, tambem acho isso ridiculo.isso é hipocrisia, vcs falam demais e nao fazem é nada, e ainda se acham os inteligentes da escola, pior ainda sao esses professores que ficam "pagando pau" pra esse grupo apenas ilustrativo de vcs. o dia em que pararem de falar, e começarem a agir, a tentar mudar de forma prática, ganharao o meu respeito, mas por enquanto continuo com minha ideia formada de que esse grupo é um simples modismo.

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  8. Anônimos, valeu pelas dicas aí!HAHA! Você é o cara, sem você nós não seríamos nada, a partir de hoje então nós vamos começar a agir, tudo bem? Mas, você não disse como agir? Estamos perdidos sem esses conselhos.

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  9. É bom reiterar que a Dilma tomou a medida de enxugar os gastos públicos. Isso é excelente para o nosso país, que caminha para um grande endividamento. O corte de gastos nesse momento é fundamental, sem, é claro, deixar de investir no país, através de programas como o PAC.

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  10. Os debates tem ação particular na vida de cada um que participa, acrescentando e ampliando mentes. Nosso objetivo, ao menos por enquanto, não é levantar bandeiras é "pensar sobre", o que já é muito importante para a vida de qualquer um. Mas como pensar nesse país é sempre motivo de alarde, somos taxados de "intelectuais ilustrativos". Se você não vê utilidade em pensar e debater, por favor não participe dos nossos encontros. Não é possível mudar o sistema levantando plaquinhas que dizem pouco, ou defender causas das quais nem nos inteiramos completamente. Se você não respeita um grupo de debates porque ele apenas debate, não fazemos questão do seu respeito.

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  11. O grupo é bom, no geral, parabéns! *Sugestão: que tal unir com outras escolas?! Eu sou do Nacional, mas sei que existe inúmeros argumentadores e questionadores em outras escolas, como por exemplo, no COC. Na minha visão eles não possuem um grupo como esse, pelo simples fato de não ter necessidade, eles já possuem momentos destinados a isso. Este momento mostra como eles são bons, e como conseguem derrubar ideias propostas até mesmo pelos "mediadores". Eu fui no Fórum deles, mais especificamente sobre o meio ambiente, e sobre o corpo e a mente, pude observar o teor de criticidade que há diluido entre todos os alunos... Até mesmo nos temas de redações propostos à eles, buscam deixar cada dia mais nítido essa procura pela crítica presente em cada um. Acho que seria muito bom, pois enquanto no Nacional apenas meia dúzia debate - no D.S.T., lá são todos os alunos. Seria bom para nós do Nacional e para eles do COC, por exemplo. Então, o que me dizem sobre? PARABÉNS AO D.S.T.

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