D.S.T. - Debates Socialmente Transmissíveis

Faltando aproximadamente um ano para o vestibular nos sentimos cada vez mais uma massa de manobra. Números de uma sociedade orgânica de individualidade questionável, empanturrados de conteúdo programático, macetes e neuras. Nesse contexto, surge o despretensioso “DST”, um grupo de “prevenção e tratamento” às doenças venéreas de uma sociedade doente, alienada, saturada de vazios, informações descartáveis, crítica condicionada e discussões pouco aprofundadas.

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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Os jovens de hoje são mais alienados? (06/08/2010)


         Neste último encontro discutimos se nós, jovens da geração atual, somos mais alienados e inertes do que os das gerações anteriores. Afinal, sempre ouvimos histórias ou estudamos sobre os movimentos estudantis pró-liberdade de expressão, contra guerras, abusos, corrupções, etc. das gerações passadas. As músicas antigas parecem sempre mais complexas, engajadas ou com mais conteúdo. Hoje, as revoltas, os protestos e os incômodos parecem ser mais raros. Assim como as músicas, os cantores e os ídolos parecem perecíveis e sem qualidade. Não há mais o que se revoltar, ou não há mais quem se revolte? O que mudou? O cenário ou a platéia?
         Somos chamados de geração BBB, geração anestésicos ou de geração dos muito informados e pouco sábios.
Concordamos que os meios de comunicação exercem uma influência constante sobre nossos comportamentos, justificando inclusive nossa mudança de postura em muitos casos. Hoje existem novas formas de protesto, de reação e ação. O projeto “ficha limpa”, por exemplo, é resultado de uma mobilização popular em prol de um objetivo e de uma insatisfação em comum, que se construiu virtualmente, dispensando os cartazes, gritos e panelas, mas que teve equivalente peso popular.
A disponibilidade de informações e possibilidades para nós é infinita e inédita em todo o contexto histórico brasileiro. Mas a liberdade de expressão e a democracia que recebemos numa bandeja de prata das gerações que lutaram por tais benefícios, sofrem gradual desvalorização e subutilização conforme o tempo passa. Novos recursos como vídeos, blogs, vlogs, por exemplo, possuem abrangência rápida, indiscriminatória e extremamente eficiente. Qualidades perfeitas para promover mobilizações sociais, reflexões interessantes... Porém, os canais mais vistos destes tipos de recursos normalmente veiculam comédia barata ou promovem ídolos descartáveis e perecíveis. Ou seja, gozamos de uma liberdade incrível e de uma disponibilidade fantástica de informações, mas isto não quer dizer que saibamos mais, porque muito pouco do que está acessível é absorvido. Discutimos, nesse contexto, se o turbilhão de informações a que somos submetidos não é também responsável por nossa omissão e falta de criticidade. Afinal, pertencemos à era da super velocidade que nos impede de “digerir” tudo que nos é apresentado. 
Comentamos também sobre um fato estatístico, absurdo e triste: o número de eleitores optativos jovens (entre 16 e 17 anos) tem caído acentuadamente desde sua legalização. No fim da década de 1980, esses eleitores representavam mais de 4% do eleitorado total do país. Hoje, este número já decresceu quase 1%, mesmo tendo o governo promovido campanhas (“Se liga 16!”) de incentivo ao voto para esses jovens. Qual a causa de tal fenômeno? Depois de discutirmos, chegamos a algumas possíveis respostas para esta pergunta:
1.     Nossa geração não lutou pela democracia como as gerações passadas, nem sequer acompanhou de perto a repressão. Talvez por isso, valorizemos menos a liberdade política.
2.     É comum que os jovens associem política à corrupção. Este preconceito pode causar uma desilusão precoce do jovem, e seu conseqüente desinteresse por qualquer assunto político.
3.     Alguns jovens podem considerar-se imaturos demais para exercerem sua função como eleitores.
4.     Muitos jovens também não acreditam no voto como fonte de poder para mudar o país, enxergando-o mais como uma obrigação (que quanto mais adiada melhor) do que como um ato de cidadania.
Discutimos também que essa mobilização e envolvimento, social e popular, intensos em prol da política que temos a impressão de ter existido no passado é uma verdade questionável. Afinal, os principais movimentos que tanto admiramos foram realizados mais especificamente em capitais metropolitanas como São Paulo e Rio de Janeiro. Em outras regiões, muitas vezes a população não tinha nem mesmo a dimensão da repressão que ocorria na ditadura, por exemplo. Por isso, é importante desmitificar essa visão de que antigamente o país todo era engajado em causas sociais e políticas. Nesse momento também, lembramos que aconteceram sim mudanças sociais significativas e positivas em nossa geração. Embora subutilizados, os meios de comunicação levaram a uma globalização tão abrangente, que trouxe benefícios também. De fato, a população está mais consciente de seus direitos, por exemplo. O PROCON é um exemplo de recurso que vem sendo muito mais utilizado pelo povo, desde a popularização da internet.
Concluímos, por fim, que nossa geração tem sim aspectos positivos, mas que o distanciamento histórico é essencial para que estes sejam enxergados e, nós, como integrantes imaturos dessa geração, vimos pouco e temos pouca consciência do quanto evoluímos socialmente. Os motivos que temos hoje para nos incomodar não são menores, são apenas diferentes. Assim como mudaram também as formas de revolta e revolução. Temos que perceber, entretanto, o quanto poder temos nas mãos. Que possivelmente não é o suficiente para mudar o mundo como muitas vezes desejamos, mas é o bastante para mudar alguns “mundos” menores e mais próximos, como nosso “mundo íntimo e particular”, por exemplo.  O DST é uma forma de começar tal mudança, de manifestar nossos incômodos e pensar sobre.
Ressalta-se que neste encontro compareceram duas professoras que contribuíram imensamente para que a discussão fosse rica e fluísse bem. Ficamos extremamente honrados e felizes com a presença de pessoas tão dedicadas a nos apoiar.
Terminada a discussão do assunto proposto, conversamos sobre uma questão estrutural do grupo: se iríamos ou não abri-lo para que outros alunos participassem. Tememos que, com tal abertura, o nível das discussões caia e que nos decepcionemos com os novos integrantes. Porém, compreendemos que se trata de um projeto extremamente benéfico, a que mais pessoas deveriam ter acesso e que, por isso, esse medo nosso poderia converter-se num egoísmo, intolerância e até mesquinhez da nossa parte, se não tentássemos essa abertura.  Por isso, concordamos em divulgar a existência do DST e abrir as discussões do grupo quinzenalmente e que, também quinzenalmente nos reuniremos com a formação inicial. A primeira discussão aberta do grupo acontecerá no encontro do dia vinte de agosto.
Participantes: Milena Fonseca (professora), Leandra (professora), Taciana, Mateus Carrijo, Gabriela, Nathália (2º capa).

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