Por mais variadas que sejam as discussões, sempre há algum comentário sobre o poder da mídia. Pois bem, decidimos então fazer um debate próprio para discutirmos a tão falada mídia, também conhecida como “o quarto poder”.
Porém, concordamos que esta corre o risco de ser uma discussão fraca, pois já é de senso comum o fato de que a mídia manipula e de que não existe imparcialidade. Qualquer pessoa, sem o mínimo de senso crítico, possui essa convicção. Porém, quantos desses percebem as manifestações dessa manipulação cotidianamente? Até que ponto nós queremos ser massa de manobra? Até que ponto a parcialidade é ruim? Nós saberíamos lidar com a imparcialidade? O que fazemos com a liberdade de imprensa?
Primeiramente, discutimos como se dá essa tal manipulação. Afinal, constituímos uma sociedade extremamente heterogênia. Então, como as mídias de grande circulação conseguem manipular a maioria da população se esta possui interesses completamente distintos? Simples: ela cria uma popularidade aparente de ídolos, formas de pensar, agir... Assim, cada ser sente-se parte de uma realidade a qual não pertence. Os programas, as manchetes, as reportagens, apresentam algo que gera uma identificação com diferentes públicos, funcionando como espécies de iscas, que trazem consigo aquilo que não gera identificação, mas que um número gigantesco de pessoas passa a servir de audiência, engolindo, assistindo ou lendo inconscientemente aquilo que não lhe convém, ou que já está de alguma forma condicionado. Aquele que assiste ao jornal para ver as notícias do futebol, por exemplo, acaba vendo despretensiosamente as notícias daquele jornal que podem estar condicionadas conforme os interesses do mesmo.
Mas, afinal, toda mídia é parcial? Concordamos que as mídias que exibem notícias em tempo real, como os canais de “news” brasileiros criados nos últimos anos, tendem a ser mais imparciais, afinal a notícia é ali mostrada sem que haja uma edição prévia. Porém, todo jornalista ao selecionar um assunto a abordar, ao editar uma reportagem ou mesmo ao anunciá-la oralmente, transmite, mesmo que inconscientemente, algum tipo de opinião. Já dizia Weber que todas as ações humanas estão “impregnadas pela nossa sensibilidade valorativa”. Toda e qualquer pessoa, por sua natureza humana e natural, é imparcial e, por isso, por que esperar que a mídia, a voz dessa humanidade, não seja? Conclui-se então que o regime jornalístico que prevê a imparcialidade é, no mínimo, hipócrita. Mas qual o problema implícito nisso?
Nenhum, desde que o leitor, o espectador ou o telespectador tenha consciência de que está pagando, está usando seu tempo ou está no mínimo dando audiência para algo que possivelmente está condicionado aos interesses de determinada classe. Quem paga por uma revista da “Caros Amigos” sabe que está pagando por uma revista de esquerda, que analisa os fatos sob a ótica esquerdista. Porém, quem compra uma revista “Veja” sabe que seus principais diretores eram funcionários diretos de confiança do governo de Fernando Henrique Cardoso? Quem assiste a Globo sabe que esta possui as mesmas inclinações políticas que a “Veja”? Estabelece-se, portanto, uma questão puramente ética. Isto porque estas mídias supracitadas que não explicitam suas inclinações políticas não o fazem para não perder público, pois definir sua posição implicaria na limitação de seu público.
Então, qual seria a postura correta a ser tomada por todos aqueles que têm consciência da parcialidade de tais mídias? Deixar de contemplá-las? Não. Afinal, parcialidade e qualidade podem coexistir tranquilamente, contanto que a audiência tenha consciência crítica o suficiente para contrapor argumentos, não aceitando qualquer verdade apresentada como absoluta. Deveríamos buscar outras fontes, pesquisar até criarmos conceitos e análises próprias. Porém, como esperar que o proletariado deste país ou qualquer outro tipo de trabalhador que possuem restritos horários de almoço e descanso noturno busque variadas fontes para uma mesma notícia? Neste contexto, torna-se mais grave ainda a ética implícita nessa questão, pois a manipulação é extremamente facilitada no Brasil pela presença de uma população sedenta por “circo” depois de trabalhar o dia todo por “pão”.
Mas então será que a essa manipulação por parte das mídias é tão negativa assim? De que formas podemos ser prejudicados por sermos massa de manobra?
Bom, embora não percebamos a mídia dita comportamentos, vestimentas, ideologias e até a política de nosso país. Ela é capaz de derrubar, hoje, qualquer governo, por exemplo, fazendo justiça à expressão de “o quarto poder” a ela associada. É capaz de direcionar o consumo do país, a ditar como deveríamos gastar nossos salários, com quais roupas, com quais filmes, com quais alimentos. É capaz de nos dizer por quem chorar, quem admirar, o que é arte, o que é cultura. Tudo vem mastigado, impondo uma realidade que não é a nossa, mas que nos sentimos obrigados a buscar, incessantemente, numa insatisfação alimentada pelo consumismo desenfreado e pelos sorrisos dos modelos nas propagandas. Neste sentido, a publicidade, a mídia e principalmente a manipulação das massas acaba sendo requisito inerente ao capitalismo. A propaganda é a alma não só de um negócio, mas de um sistema.
Comentamos ainda o quanto os números de votos a determinados candidatos se multiplicam quando sai algo bom a seu respeito, ou quando algum ator ou cantor famoso diz que o apóia. Há montantes de vídeos na internet que mostram a comparação entre a apresentação de notícias idênticas em emissoras diferentes. Há poucos dias, por exemplo, o candidato José Serra foi fazer campanha em São Paulo e foi vaiado por alguns manifestantes que estavam insatisfeitos com uma obra mal acabada feita pelo então candidato quando ainda era governador do estado. Na Record, os manifestantes foram ouvidos e mostrados no jornal, já na Globo, sequer mostraram a presença de manifestantes no local.
Por fim, discutimos que a liberdade de imprensa pode ser extremamente negativa em muitos aspectos, principalmente no político. Neste sentido, uma ditadura tem total razão ao dominar todos os meios de comunicação como fazem na Venezuela e no Irã, pois assim, o ditador possui o apoio popular necessário para fazer todas as reformas que julgar necessárias sem preocupar-se com mobilizações da oposição. Embora prezemos pela liberdade em todos os seus âmbitos, é fato que ela pode impedir muitas reformas que se fazem socialmente necessárias, visto que estas desagradariam às classes das minorias que controlam e manipulam hoje a imprensa brasileira.
Comentamos também sobre a “rádio naça”, um meio de comunicação interno que dá liberdade de manifestação aos alunos. O que faríamos então com tal liberdade? Surgiram várias idéias de usos diversos, sendo que ressaltamos que seria interessante toda e qualquer forma de manifestação, desde que houvesse espaço para todas as divergências possíveis e existentes.
O debate encerrou-se mais cedo do que o rotineiro, pois alguns alunos presentes no debate tiveram que participar, mais tarde, do Simuna.
Participantes: Gabriela Carolina, Mateus (2º capa), Willian, Marcell (2º fi), Guilherme (2º épisilon) e Douglas (cursinho).