Foi sugerido o tema “política de imigração do primeiro ministro francês Sarkozy”. Adicionou-se à sugestão o alargamento da abrangência do tema, passando a incluir a política brasileira de imigração e seus efeitos benéficos e/ou maléficos à política e à economia do país.
Têm-se como fontes iniciais:
1. Estudos do Comitê de Lordes da Inglaterra que divulgou um estudo afirmando que a imigração é um prejuízo embora os imigrantes sejam responsáveis por seis bilhões de dólares anuais do PIB inglês;
2. Fontes que apontam a falta de política migratória brasileira como sinal de desorganização pelo mantimento da política de “simpatia” e “boa vizinhança”;
3. Aplicação da política neo-liberalistas de protecionismo próprio (referência à aula de história) por parte dos países de primeiro mundo;
4. A discussão a respeito do nacionalismo relativo;
5. As razões das revoltas de jovens imigrantes africanos na França, duramente sufocadas por rígidas políticas aprovadas por Sarkozy e por ele propostas a toda a U.E., documentadas nesta mesma semana pelo canal “globo news” e presentes nos seguintes endereços eletrônicos:
www.insrolux.org/textos2005/coggiolafranca.pdf
www.contee.org.br/secretarias/politicasociais/materia_7.htm
O debate se deu em ambiente extremamente adequado, oferecido pela coordenação de projetos do colégio, o que favoreceu o bom rendimento das discussões. Foi visível o avanço das mesmas comparando-as ao primeiro encontro. A começar pelo aumento do aprofundamento e duração das discussões, reflexo claro do estudo prévio feito pelos alunos.
Compareceram três pessoas, inclusive uma nova integrante em relação à formação inicial. Duas integrantes estiverem ausentes por motivos de saúde. Observamos que o foco dos debates deve ser mais reforçado, visto que a fuga ao tema é freqüente. Propusemos-nos a estabelecer uma pauta a cumprir a fim de impedir que tal erro se repita.
Durante o debate sobre a política de imigração da França foram levantadas importantes questões:
1. A França, enquanto país de alta expectativa de vida, enfrenta o envelhecimento população, sendo a aceitação de imigrantes no país essencial para que se mantenha o nível quantitativo da população economicamente ativa;
2. Os estudos a respeito da imigração apontando-a como negativa ou positiva à economia de um país são quase sempre condicionados, sendo por isso difícil o acesso a fontes confiáveis e imparciais, além de comum a discordância entre dados de diferentes fontes;
3. Os imigrantes podem contribuir para o desenvolvimento de um país ou atrasá-lo. Movimentos como “um dia sem imigrantes” (realizado em março/2010 quando os imigrantes pararam de trabalhar para mostrar sua importância econômica) provam que suas atividades são essenciais para a economia dos países europeus. Porém, os imigrantes acabam ocupando cargos que poderiam empregar nativos, contribuindo para o aumento da taxa de desemprego e agravamento de problemas sociais;
4. O número de imigrantes em cada país deveria ser controlado e as fronteiras reforçadas, a fim de evitar a ilegalidade, fazendo com que os imigrantes aceitos contribuam para o crescimento do país tanto quanto os nativos, o que diminuiria discriminações, preconceitos e segregações;
5. A política rígida e extremista de Sarkozy pode ser justificada pela violência adotada pelos protestantes, porém os acordos são sempre dificultados quando se responde violência com violência;
6. É revoltante que os imigrantes já legalizados sofram discriminações e humilhações como têm sofrido, ao serem obrigados a identificar-se a policiais sempre que requerido, não terem iguais direitos trabalhistas e serem discriminados por sua cultura e origem. A recusa do governo em dedicar mais atenção a estas minorias estimula os franceses a cultivar preconceitos;
7. Qualquer forma de protesto fundamentado é válida, porém, os jovens perdem muito da sua razão quando usam da violência como forma de chamar atenção. É difícil fazer qualquer análise estando de fora da situação, mas o fato é: violência gera violência;
8. A maioria dos imigrantes veio de antigas colônias francesas. Portanto, a atenção para estes povos por parte do governo é, no mínimo, uma obrigação histórica e humanitária.
Discutimos também a falta de políticas imigratórias no Brasil, ou a falta de fiscalização e aplicação delas. A constituição nacional é, cada vez mais, um amontoado de regras meramente teóricas, pouco conhecidas e hipócritas. As leis de visto e imigração se incluem nisto.
É fato que a população nativa brasileira foi praticamente dizimada com o “descobrimento” do país. Desde então, o Brasil tem recebido milhares e milhares de imigrantes, em sua maioria africana, portuguesa, italiana, japonesa e alemã (ordem decrescente). Por isso, uma identificação cultural, ou seja, uma solidariedade mecânica se tornou dificultada nesse território de miscigenação. A mistura de culturas, traços físicos e até mesmo a grande extensão do país tornam inviável a aplicação de políticas que atinjam cada indivíduo do país.
Os pontos relevantes a respeito do Brasil levantados foram:
1. O estabelecimento de imigrantes ilegais no país é extremamente simples e freqüente;
2. A cultural “simpatia” do brasileiro para com os estrangeiros e acolhimento de qualquer um deles (ilegal ou legal) não é de todo positiva. Isto porque esse comportamento revela que o brasileiro valoriza muito mais as culturas estrangeiras do que a sua própria, ignorando o fato de que esses imigrantes podem ser prejudiciais a economia nacional. Na nossa região (sudeste), por exemplo, é mais bem acolhido um estrangeiro do que um nordestino;
3. A receptividade do brasileiro é positiva desde que não seja sinônimo de falta de organização na política de imigração nem de desvalorização da cultura nacional;
4. O sentimento nacionalista só pode ser desenvolvido em todo o território brasileiro caso haja uma identificação e um sentimento de unidade entre as tantas culturas que existem no país. É impossível esperar que bandeiras nacionais estejam expostas nas sacadas das casas o ano todo (e não só quando há copa do mundo de futebol) enquanto não sejam tomadas medidas que fomentem e promovam a igualdade social, educacional e econômica. O nacionalismo, em seu conceito básico, não existe no Brasil;
5. Falar em cultura brasileira (no singular) é extremamente superficial. O processo imigratório de construção da população impossibilita a utilização dessa gramática homogênea;
6. O fato de o brasileiro valorizar mais a cultura estrangeira do que a nacional é evidente, cultural e estimulado pelas mídias de grande circulação. As novelas da Rede Globo, por exemplo, com audiências monstruosas há anos, se passam sempre em três possíveis cenários clássicos: em SP, RJ ou no exterior. Não há valorização das outras regiões brasileiras. Os personagens pertencem às elites ou às favelas, mostrando sempre o lado positivo da primeira e a pior face da segunda. As mini-séries ou programas com conteúdo cultural eficiente (cita-se: Mad-Maria, Casa das Sete Mulheres, JK, Hoje é dia de Maria, Globo Repórter, Profissão Repórter, entre outros programas de outras emissoras como é o caso de CQC) normalmente são exibidos em horários inacessíveis à maioria da população;
7. As “minorias” representadas em raras novelas quase sempre são apresentadas como estereótipos. Os homossexuais, por exemplo, são apresentados quase sempre em núcleos de humor, sendo as lésbicas extremamente masculinizadas e os gays como extravagantes e afeminados. A constante associação dos homossexuais com “comédia pastelão” alimenta a discriminação e o preconceito (maquiados, como sempre);
A empolgação sobre a discussão a respeito da alienação pela mídia nos desviou um pouco do norte inicial, porém surgiram opiniões interessantes que merecem ser aqui registradas.
Um dos integrantes expôs que, em sua opinião, o Estado, (enquanto autoridade forte e abrangente) deveria vincular-se a alguma religião, não no sentido de estabelecer um Estado Teocrático baseado em escrituras sagradas, mas fomentando ideologias de teor religioso. Na opinião dele, esta medida seria eficiente no sentido de resgatar a valorização do ser humano perdida com o crescimento da competição desenfreada, da exploração trabalhista e de toda a crescente desvalorização da moral, conseqüentes do advento e desenvolvimento do sistema capitalista.
Os outros integrantes rebateram com dois argumentos principais. Primeiramente, não há uma hegemonia religiosa no país que permita que o Estado (enquanto representante de cada indivíduo brasileiro) assuma, declaradamente, uma religião determinada – embora o laicismo do governo e das mídias seja extremamente questionável. Por isso, essa vinculação Estado/Igreja poderia dividir a população brasileira ainda mais. Além disso, os valores morais e educacionais decadentes na sociedade são reflexos de uma discrepante desigualdade social que deve ser corrigida através de políticas, de desenvolvimento social e educacional, cabíveis e urgentes ao Estado e não a nenhuma outra instituição.
Embora este não fosse o objetivo da discussão, o integrante que defendia a vinculação do Estado com a Igreja acabou revendo este seu conceito e mudando de opinião.
Discutimos também até que ponto a censura à imprensa é necessária e eficiente. Vivemos em uma cultura de que “despreocupar-se é sinônimo de alegria/felicidade”. Em que entretenimento é novela e não notícia. Em que a política é vista como uma realidade distante e decepcionante. E, após algumas discussões, percebemos que a mídia é em grande parte responsável por essa alienação e cultura “sub-desenvolvimentista”. Então, embora a liberdade de imprensa seja exigida por órgãos internacionais poderosos como a ONU, talvez (se aplicada de forma ética) a censura pudesse servir como forma de polir a mídia, forçando-a a ser efetivamente um veículo de cultura. Este é um tema que pode servir de norte para futuros debates, visto que teve aprofundamento raso, apesar de sua complexidade.
Por fim, questionamos também se a reeleição por mais de oito anos deveria ser permitida, visto que tal período é insuficiente para que um governante promova as reformas que pretende. Porém, a mídia também atua contra esta idéia reforçando a imagem de “ditador” de todo aquele que pretenda ficar mais tempo no poder, mesmo que tenha aprovação esmagadora da população. Este é um tema que pode servir de norte para futuros debates, visto que teve aprofundamento raso, apesar de sua complexidade.
Enfim, foi um debate extremamente produtivo e rico. À fuga ao tema é um defeito a ser corrigido o quanto antes e tranqüilamente aceitável a esta altura, visto que o grupo ainda engatinha.
Participantes: Mateus Carrijo, Gabriela Carolina e Andressa (segundo capa).
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