O grupo se reuniu de forma fechada, mas contou com a participação dos intercambistas Daniel Cuellar (da Colômbia) e Tahnne Guevara (do Peru), além da professora de História aposentada Fátima Almeida, a convite de uma das participantes do núcleo, Nathália.
O tema, a princípio, não parecia encontrar corpo, talvez por ser muito amplo e abrangente, mas conseguiu se definir ao longo da reunião. Afinal de contas, como podemos conceituar política apropriadamente na atualidade? Por que tantas pessoas, especialmente jovens, preferem se manter à margem desses assuntos por puro desinteresse? De que forma podemos atuar para nos certificar de que dessa vez, nessas eleições, os candidatos cumpram efetivamente o que tanto se promete em campanhas?
Se retomarmos o conceito grego de política e cidadania, veremos que eles estão diretamente relacionados com o grau de interesse e participação da população na administração da máquina pública da pólis (cidade-Estado). Com o envolvimento em debates políticos, com o fervoroso defender e debater de idéias dos gregos, tão impecáveis em sua oratória. É preciso reconhecer que isso tem se perdido consideravelmente na política brasileira. Vemos-nos, teoricamente, representados no âmbito da administração pública por deputados, vereadores, senadores e pelo presidente da república, mas talvez o que há de mais fundamental nas relações públicas, tem-se esvaído: O diálogo direto com a população, que tem seus interesses muitas vezes marginalizados em debates puramente ideológicos e partidários.
Dedicamos uma atenção especial a esse último tópico mencionado e ao momento de eleições que estamos vivendo. Em jogadas de marketing cada vez mais apuradas, os candidatos se colocam numa disputa desenfreada para conseguir o máximo de atenção da população através de jingles, placas, bandeiras, adesivos e tantos outros apetrechos que pregam, necessariamente, uma imagem, mas não um conteúdo de propostas consistentes e condizentes com a real necessidade do país. O diálogo se dá, portanto, numa intenção vaga por parte de muitos políticos em ouvir e incluir em seu mandato ações que supram essa necessidade popular. Muito pelo contrário, ele se torna um material publicitário para futuras eleições, com campanhas incrivelmente superfaturadas e falsas. Além de serem provenientes de partidos de existência duvidosa, siglas fantasma que formam coligações com partidos mais fortes para lançarem seus candidatos.
Inferimos também, que no contexto político de qualquer país, quanto mais se estuda sua história, bem como as bases ideológicas que hoje formam os atuais candidatos, mais estaremos aptos a escolher de forma esclarecida, candidatos competentes. Afinal, mesmo que para muitos a administração pública tenha seu conceito já banalizado e corrompido, precisamos, não nos tornar descrentes e negligentes quanto a esta questão, e sim, ainda com mais veemência, defendê-la de modo a lutarmos por uma política democrata e limpa em suas propostas.
Mesmo reconhecendo que é possível realizar mudanças de forma desvinculada de órgãos públicos, longe de toda burocracia da gestão do Estado, como ONGs, é necessário e ético assumir que a base real da organização social está no governo, na política, e tão somente através dela atinge-se o resultado em escalas nacionais e internacionais. É fundamental que um país saiba se organizar politicamente, e acima de tudo, é fundamental que sua população saiba de que forma se organizar e de que forma deve fiscalizar e participar das decisões tomadas por vereadores, senadores e deputados.
Ao refletirmos sobre a frase ‘cada povo tem o governo que merece’ fica ainda mais claro o quanto, historicamente, presenciamos as mais diversas formas de roubo e corrupção na política, justamente pela falta de informação da população, que num ato de analfabetismo crítico, aceita passivamente e acomodadamente os mais diversos abusos que ocorrem, como por exemplo, no próprio Congresso Nacional.
Cada governo é, portanto, o reflexo de cada povo, de cada mentalidade e de cada construção de identidade. É possível então, cutucar na mais antiga ferida da discussão, que diz respeito ao descompasso da mídia brasileira – principal formadora da pseudo-identidade brasileira - no caso, de canais abertos e que atingem, portanto, a maior parte da população, com o contexto sócio-econômico do Brasil. Descompasso no sentido mais alienado que a palavra pode oferecer. Pois mesmo com telejornais que exploram notícias esportivas e irrelevantes, são telenovelas, comerciais e, no caso do horário eleitoral, mais jingles e propagandas plásticas e babacas que tomam conta da programação.
Mais do que fazer com que a população se interesse por política, é preciso dizê-la a verdade. É preciso que algum canal ouse nos dizer o que consta no plano diretor da cidade e o que deve ser feito para melhorar sua infraestrutura. É preciso que busquemos saber, também, qual a função de um deputado, de um senador, de um vereador, quais poderes ele exerce efetivamente, para que não votemos em alguém por pura simpatia, por meros dez minutos a ele dedicados numa curta propaganda eleitoral. É preciso averiguar muito do que nos é dito pela mídia, e checar sua veracidade.
É preciso que as pessoas se apaixonem pela política, exercendo sua cidadania, não da forma como nos é dito na escola. Aquela cidadania de conceito arcaico que consiste em cumprirmos nossos direitos e deveres, onde nosso direito acaba onde começa o do outro. Mas uma cidadania verdadeiramente grega, forte, democratizada e livre, diretamente associada à política.
Participaram desse debate: Gabriela, Taciana, Mateus, Nathália (segundo capa), Tahnne Guevara (formada em psicologia), Daniel Cuellar (economista), e Fátima Almeida (professora de história aposentada).
"Não há nada de errado com aqueles que não
gostam de política, simplesmente serão
governados por aqueles gostam." - Platão
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